Vezus Mandria



NAS ESTEPES JÁ NÃO HÁ LOBOS

Vezus Mandria
A Hermann Hesse

Farejo mudanças, ao largo,
mesmo sabendo bem que
nas estepes já não há lobos.
Ao contrário, nada se vê
nas planícies e esplanadas,
senão filas de desiludidos
por entre gordas fuinhas.
Mudanças vêm a caminho
como desde sempre ocorre quando
já não é possível manter-se
– sem funestos resultados –
a situação corrente.
Mudanças virão, movimentos,
transtornos, transformações.
Quem quer o imobilismo
vive agora um tempo errado.
Nas estepes já não há lobos:
quem nos diz que no futuro
será tudo como está?
Farejo mudanças, ao largo,
mesmo sabendo que o olfato
é dos sentidos, aquele
que menos se quer usar.



DESCULPEM-ME OS ÍDOLOS

                                      Vezus Mandria

Desculpem-me os ídolos modernos,
as celebridades do cinema,
as estrelas de milhões de dólares.
Os craques da bola, artilheiros, marqueteiros,
os automobilistas das fórmulas voadoras.
Os roqueiros, timbaleiros, baladeiros,
cantores dançantes, as sexy ladies.
Os que cantam, pulam, rebolam
e fazem das multidões um estranho bicho
com milhares de braços ao ar e
nenhuma cabeça.

Peço desculpas até aos de duvidosa fama
aos que nada sabem fazer
além de olhar para a câmera e darem
a impressão de mentir sinceramente.

Desculpem-me todos vocês mas meu único
herói pop continua a ser o Zorro, o mascarado –
que com espada e chicote tornava
ridícula a opressão.

Zorro, o libertador. Eis aí um ídolo de verdade.
Vocês outros, Deus lhes guarde seus milhões,
mas que tédio!
[Vezus Mandria, é um ex-guerrilheiro, desiludido com a humanidade]